Casa
Miguel Torga
São Martinho de Anta, 3 de Julho de 1966
Estas paisagens já estão de tal modo explicitadas dentro de mim, que parecem escritas no meu entendimento. Quando cuido que estou a interpretá-las, estou a ler-me.
Diário X
A terra é de tal natureza que, não contente com as dádivas a céu aberto, encerra nas entranhas riquezas que não têm conto. Entra-se no ventre duma serra e é ferro, é oiro, é chumbo, é estanho, é volfrâmio, é zinco, é urânio, é tudo quanto Vulcano forjou.
Portugal
Fotografia do busto de Miguel Torga em São Martinho de Anta
  • Temáticas Torguianas

  • Cultura

  • Natureza

  • Primeiro Dia

  • 1

    Casa Miguel Torga

  • 2

    Espaço Miguel Torga

  • 3

    Trilho Nos Passos do Torga

  • 4

    Escola Primária do Poeta

  • 5

    Pólo Arqueológico da Garganta

  • 6

    Capela da Senhora da Azinheira

  • 7

    Casa Aires Torres

  • 8

    Igreja Matriz de Sabrosa

  • 9

    Casa de Fernão Magalhães

  • 10

    Os Locais e Culturas da Viagem de Magalhães

  • Segundo Dia

  • 11

    Aldeia Histórica de Provesende

  • 12

    Trilho Vinhateiro de Provesende

  • 13

    Miradouro de São Cristóvão do Douro

  • 14

    Miradouro de São Domingos de Monte Coxo

  • 15

    Pinhão

  • 16

    São Leonardo da Galafura

  • 17

    Museu do Douro

  • Terceiro Dia

  • 18

    Centro Histórico Vila Real

  • 19

    Sé de Vila Real, Igreja de São Domingos

  • 20

    Igreja de S. Paulo, Capela Nova

  • 21

    Jardim da Carreira

  • 22

    Museu da Vila Velha

  • 23

    Fundação da Casa de Mateus

  • 24

    Fragas de Panóias, Santuário de Panóias

  • Casa Miguel Torga
  • Espaço Miguel Torga
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  • Pólo Arqueológico da Garganta
  • Capela da Senhora da Azinheira
  • Casa Aires Torres
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  • Os Locais e Culturas da Viagem de Magalhães

Roteiro literário de três
dias no Douro

Como chegar a São Martinho de Anta
A uma hora de carro do Porto, a duas horas de Vigo. A partir do Porto, seguir pela A4 em direção a Vila Real. Sair para o IP3, continuar pelo A24/IP3 até à EN322. Sair em São Martinho de Anta. A partir de Vigo, seguir a AP-9 em direção a Tui. Em Portugal, seguir a A3, A11 e A4 para Vila Real. Sair na saída 13 da A4, continuar na EN322, sair em São Martinho de Anta.

Na mala. Livros e banda sonora
Percorrer a geografia sentimental e física de Miguel Torga é entrar na sua obra e na sua vida. Visitar os seus lugares com os seus livros, os seus diários, os seus contos de montanha, ajudam a penetrar nesse universo tão único e singular. A Criação do Mundo, Bichos, Vindima, são belas companhias de viagem. Além dos sons e dos silêncios das paisagens, dos rios, das vinhas, e das gentes, o disco Viagem a Um Reino Maravilhoso, dos Lavoisier, é a banda-sonora perfeita para estes passeios. O álbum parte de poemas de Torga para traduzir o som encontrado na poesia do escritor transmontano. A terra é de tal natureza que, não contente com as dádivas a céu aberto, encerra nas entranhas riquezas que não têm conto. Entra-se no ventre duma serra e é ferro, é oiro, é chumbo, é estanho, é volfrâmio, é zinco, é urânio, é tudo quanto Vulcano forjou. Portugal

Primeiro Dia
São Martinho de Anta e
Sabrosa

A casa, a família, as raízes Visitar, conhecer, caminhar, respirar

São Martinho de Anta, 28 de Dezembro de 1953

É uma pena que os montes não falem, não dialoguem nem testemunhem. Estes meus, pelo menos. Além da emoção de os ouvir responder ao monólogo que o silêncio em que vivem apagou nos meus lábios e tornou interior, gostaria sobretudo de saber se fica na alma deles, como na minha, a marca indelével de cada um dos nossos encontros. É de tal modo apertado e medular o abraço que damos, tão íntima a comunhão que nos une horas a fio, que não me resigno à ideia de que só do meu lado haja consciência, e do outro o amor seja passivo.

Diário VII

Mas nunca poderia viver fora dela como escritor. Faltava-me o dicionário da terra, a gramática da paisagem, o Espírito Santo do povo.

A Criação do Mundo

O ponto de partida.
O ponto de partida. O torrão nativo de Torga. As serras e os montes. Os socalcos da encosta. Os seus lugares. O corpo e a alma plantados neste chão. O reduto matricial. Aqui, em São Martinho de Anta, garante o poeta, os homens são capazes de todos os absolutos. A aldeia do escritor, onde nasce e onde quis ser enterrado numa campa rasa, discreta, granítica, com uma torga. Onde tudo começa e onde tudo acaba. Para conhecer num passeio de três dias ou durante um fim de semana prolongado. Quando quiser, como quiser, o tempo que quiser.

Todos os passeios são possíveis nesta aldeia que se tornou vila, que se estica e abraça as paisagens transmontanas. O Espaço Miguel Torga , de autoria do arquiteto Souto Moura, é um equipamento cultural que expõe e divulga a história do escritor. A vida e obra de Torga em palavras, em obras, em fotografias. Mesmo ao lado, dois minutos a pé, a porta da Casa Miguel Torga abre-se para percorrer os seus cantos e recantos. O cadeirão onde se sentava e escrevia, a lareira, as armas de caça, a boina. O seu berço e o seu chão, a casa de família com divisões que desvendam ambientes de outrora.

Ar livre, o céu, o cheiro a terra, a paisagem que agarra as cores do tempo, a pedra, o granito. Nos Passos de Torga é um trilho que decalca os caminhos do poeta. Parte da Casa Miguel Torga e termina no Eirô, no centro de São Martinho de Anta, onde morou um negrilho, amigo e confidente do poeta, a árvore que lhe segue os passos desde criança. Hoje restam as suas raízes e o poema que lhe dedicou. O trilho é um passeio circular de 11 quilómetros que respira natureza, ervas, arbustos, cravos silvestres, azinheiras, tojo, giestas brancas. A natureza tal como é.

A escola primária de janelas com vista para o Marão e o senhor Botelho, o professor que ensinava o mundo e onde, anos mais tarde, o poeta passou uma tarde a replantar mimosas da sua infância. A cinco minutos de carro encontra outra antiga escola cujo edifício é agora Pólo Arqueológico da Garganta , um equipamento que preserva e divulga um património único, lugar de encontro da História, do Douro, da serrania transmontana.

No alto da serra, com o Marão e o Alvão à vista, está a Senhora da Azinheira , o sino que badala, o cheiro a rosmaninho, a romaria de 15 de agosto, as fragas que se tornam mesas de merenda por um dia. Capela branca, singela, do século XVII, retábulo em barroco de talha dourada.

A caminho de Sabrosa, a 20 minutos de carro, encontra-se a Casa Aires Torres. A vida e obra de Aires Torres, poeta, ator, militar e revolucionário. A sala de exposição permanente tem painéis biográficos, objetos pessoais, e uma parte da sua biblioteca. Um minuto a pé, e eis a Igreja Matriz de Sabrosa, do século XVIII, estilo barroco, erguida no lugar da antiga capela pertencente à Casa de Fernão Magalhães ou Casa da Pereira, mencionada no testamento que o navegador fez antes da sua viagem de circum-navegação marítima. A casa encontra-se a oito minutos a pé da Igreja e acredita-se que foi nesta casa que o navegador nasceu. A pedra de armas, representação heráldica dos Magalhães, foi mandada picar por D. Manuel I em honra da grande viagem do destemido navegador. Essa primeira volta ao mundo, por mares nunca dantes navegados, é contada na exposição Locais e Culturas da Viagem de Magalhães, no Parque BB King, em Sabrosa, que permite vivenciar e experimentar a odisseia e descobrir territórios longínquos.

Fotografia do busto de Miguel Torga em São Martinho de Anta
Fotografia do exterior do Espaço Miguel Torga em São Martinho de Anta